O histórico do uso da bicicleta como meio de transporte remonta ao início do século XIX, quando Karl Drais criou um veículo rudimentar, de madeira, e ainda sem pedais, utilizando-se da ideia original de Leonardo da Vinci. Desde então, foram agregados avanços para tornar a bicicleta um meio de transporte viável e competitivo para o exercício da mobilidade urbana. Ao final do século, a revolução industrial levou à produção de bicicletas em massa e a difusão de seu uso como meio de transporte. Em alguns países europeus como Dinamarca e Holanda, houve uma aderência massiva ao seu uso que perdura até os dias atuais: de acordo com pesquisas recentes, na Holanda, por exemplo, este modal representa cerca de 84% dos deslocamentos da população.
No Brasil as fábricas de bicicletas surgiram na metade do século passado. Com a produção nacional, se tornaram mais acessíveis às classes populares e ficaram estigmatizadas como veículo de uso popular. Somente no final do século, a bicicleta passou a ocupar um lugar de status, sendo utilizada em maior escala como meio de transporte.
Esta alteração de postura com relação ao seu uso pode ser atribuída a alguns fatores: o debate ecológico, que tem como mote a avaliação dos impactos do consumo humano sobre os recursos naturais e como adequá-lo à capacidade ecológica do planeta; a pressão sobre o sistema viário, em que veículos de pequeno porte como as bicicletas ocupam menor espaço e apresentam maior versatilidade de circulação; ativismo social, que consiste em um conjunto de ideais que defendem os direitos dos ciclistas no uso das vias públicas, como fator de equidade na apropriação do espaço público; e a preocupação com fatores ligados ao sedentarismo da população, visto que os hábitos sedentários têm afetado a saúde da população, enquanto o uso da bicicleta pode ser benéfico para melhorias no estado físico e mental.
Em contrapartida, alguns desafios ainda podem ser percebidos e devem ser superados para tornar a bicicleta um modo de transporte competitivo com potencial de ampliação. Entre eles, estão: a necessidade de ações de conscientização para superação do preconceito ainda existente no Brasil e que considera a bicicleta um veículo de transporte para população de baixa renda; a falta de segurança para ciclistas; e a importância da criação de marcos legais, como a elaboração de Planos Diretores de Mobilidade Urbana. Só assim poderemos ter a bicicleta como um veículo regular da população.
Ida Marilena Bianchi, arquiteta e urbanista e Consultora da Fundatec